Homenagens a Ziraldo
11 de abril de 2024
Com o falecimento de Ziraldo, o Brasil perde não só o escritor que esgrima com as palavras, mas o artista sensível que se comunicava com a mesma desenvoltura tanto com adultos quanto com crianças. Qualquer que fosse o público-alvo, suas falas sempre eram efetivas, afetivas e acolhedoras.
A triste notícia levou-me a ser invadida por lembranças dos contatos que tive com ele, não muitos, mas significativos.
Em 1979, eu excursionava pelo Nordeste para promover minha metodologia nos quatorze livros de português, publicados pela FTD. Quis a sorte que, com intuito de divulgar o então recém-lançado “O MENINO MALUQUINHO”, Ziraldo estivesse no mesmo hotel que eu. Tivemos, então, três a quatro dias para conversarmos sobre literatura infantil, educação e seu tempo no Pasquim, que eu acompanhara fielmente.
Pouco depois, no início dos anos 1980, fundei o Colégio Horizontes, primeira escola do Grupo A Educacional, que primou pelo aprendizado centrado no aluno e o prazer da leitura. Este último atributo, tão inestimável para Ziraldo como ele havia deixado claro em nossos bate-papos.
Poucos anos depois da fundação do Horizontes, Myrian Dimenstein passou a fazer parte de seu corpo de educadores. Além do trabalho primoroso que empreendeu com minha alfabetização, ela me ofertou outro “encontro” com Ziraldo. Sob sua direção, nossas crianças encenaram o enredo de FLICTS, obra enternecedora que ele havia lançado em 1969, após sua experiência notável com a HQ infantil, A Turma do Pererê.
Nosso terceiro encontro deu-se no século 21. Para conversar com crianças que, na época, estavam lendo suas obras, o Colégio Concórdia do Grupo A Educacional, convidou Ziraldo a visitar suas instalações. Assim que ele chegou, fui recepcioná-lo no salão de festas entre professores e alunos.
Tão privilegiada quanto a criatividade que lhe marcou a carreira, era sua memória, que fez com que me acolhesse com alegre surpresa.
-- Nossa! Você aqui? -- exclamou. -- Depois de quantos anos?
-- Apenas trinta -- respondi. -- Você com 44 e eu com 43.
Este último reencontro deixou claro para mim que Ziraldo foi genial não só por dominar como ninguém a estética do design e os dotes narrativos, mas também pela sensibilidade própria dos grandes artistas em valorizar as pessoas e os acontecimentos que cruzaram seu caminho, ainda que por breves momentos.
O Grupo A, composto pelos Colégios Horizontes, Aprendendo a Aprender, Liceu Santa Cruz, Colégio Concórdia e suas dez creches, solidariza-se com a família de Ziraldo Alves Pinto, pela perda de uma pessoa tão especial.
Neda Lian Branco Martins